Chico Buarque, trechos.

"
"Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como um rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta. O ciúme é então a espécie mais introvertida das invejas, e mordendo-se todo, põe nos outros a culpa da sua feiura."
(Leite Derramado - pág. 61 e 62)



"Minha mão seria sempre a minha mão,
quem escrevia por outros eram como luvas minhas,
da mesma forma que o autor se transveste em mil personagens,
para poder ser mil vezes ele mesmo."
(Budapeste - pág. 23)



"Houve um tempo em que, se tivesse de optar entre duas cegueiras,
escolheria ser cego ao esplendor do mar, às montanhas,
ao pôr-do-sol no Rio de Janeiro, para ter olhos de ler o que há de belo,
em letras negras sobre fundo branco."
(Budapeste - pág. 96)



"Olhos que cintilavam quando ele pronunciava o nome das mulheres
que ao longo da história o fizeram gozar e padecer,
todas elas com cabelos castanhos, olhos negros, todas com rostos,
pernas e braços pequenos, cor de areia."
(Budapeste - pág. 86)



"A felicidade morava tão vizinha,
que, de tolo, até pensei que fosse minha"
(Até Pensei - 8º e 9º verso)



"Quero inventar meu próprio pecado.
Quero morrer do meu próprio veneno."
(Cálice - Última estrofe)



"Quando eu nasci veio um anjo safado,
o chato dum querubim.
E decretou que eu estava predestinado,
a ser errado assim.
Já de saída minha estrada entortou,
mas vou até o fim."
(Até o fim - Primeiros versos)